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  • Foto do escritorMarcio Leite

Experiência humana e futuros possíveis no SxSW 2018

Atualizado: 6 de abr. de 2020

Por Márcio Leite para ADNEWS, Março 2018.



Vivenciar o SxSW pela primeira vez realmente impacta pela tamanha profundidade das discussões sobre as tecnologias emergentes moldando a experiência humana. Inteligência artificial, sistemas autônomos, processos sistêmicos de design, machine learning, uma infinidade de inovações acerca do fazer, projetar e reimaginar novas realidades. O que se vê ao longo dos dias de palestras é o projeto de um enorme potencial inteligente sendo compostos e existindo num futuro sistêmico autômato, trafegando em nuvens de hiper-informação. Projetos incríveis para um futuro totalmente projetado e guiado pelo universo digital.

Imagem: cena de Ex Machina, filme de ficção científica de 2015 escrito e dirigido por Alex Garland.


Pode ser consternante porém ouvir, na fala de um palestrante de uma gigante global de tecnologia, que “o objetivo da nossa empresa é criar um sistema tão bom que ninguém possa questionar, senão estar nele”. Sua fala firme (e dúbia) é de nos deixar imaginando diversos seres humanos apáticos plugados, sustentando uma realidade artificial imposta e moldada por máquinas e computadores (exatamente como no filme Matrix, das irmãs Wachowski; ou em Metrópolis, de Fritz Lang).


Sua naturalidade enquanto profissional de uma importante corporação global faz refletir e questionar sobre os possíveis impactos sociais e as consequências de uma transformação tecnológica tão grande e, na fala dele, tão contundente.


Da mesma maneira, acompanhando outras palestras, é aterrador perceber o quanto a saúde mental das pessoas pode eventualmente agravar-se, progressivamente, no futuro (e aí imagine uma população global inteira doente e medicada), tamanha pervasividade desses recursos digitais, sendo muitas vezes usados para emular relações humanas essenciais (a saber, uma mulher na China que repetiu 20 milhões de vezes que amava Alexa, assistente digital da Amazon, fazendo recordar o filme HER, de Spike Jonze).



Foto: Filme 'HER'De Spike Jonze. Em Los Angeles, o escritor solitário Theodore desenvolve uma relação de amor especial com o novo sistema operacional do seu computador. Surpreendentemente, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa, uma entidade intuitiva e sensível, chamada Samantha.


Leva também a pensar que é muito questionável se todas essas tecnologias e abordagens inovadoras realmente estarão disponíveis e acessíveis de forma democrática a todos no mundo, unicamente a serviço das pessoas e suas necessidades, ou se todas essas miríades de dados estarão apenas operando em função da geração de mais lucro e concentração de riquezas para os grandes capitais globais, aumentando ainda mais o abismo entre milionários e miseráveis no mundo.


Isso para não falar das maiorias emergentes e diversos novos contextos sociais ainda em transformação, que teriam necessariamente de se adaptar a tal sistema único, eliminado qualquer possibilidade de autenticidade, identidade e expressão da multiplicidade humana.


É de grande alivio ao perceber que… talvez. Mas muito provavelmente… não.

Imagem: cena de Matrix, trilogia de filmes de ficção científica, de 1999 e 2003, criada pelas irmãs Wachowski inspirado nos livros de cyberpunk de William Gibson. O personagem Neo acorda de seu sono digital induzido e visualiza o sistema de máquinas ao qual ele (e todo a humanidade) vive plugado, desde o nascimento.



Afinal, o que que faz a inovação, senão olhar para as coisas existentes de forma diferente, gerando valor futuro, mas acima de tudo, entendendo as pessoas, suas necessidades, e seus contextos?


Para grande alívio, durante o SxSW foi ainda mais evidente, em inúmeros discursos e apresentações, pessoas, empresas e marcas genuinamente preocupadas em criar espaços mais humanos, autênticos, igualitários, inclusivos e com interações emocionais naturais e honestas. O que se percebe é um grande esforço no sentido de propiciar acesso e tecnologia dando suporte às relações humanas, propiciando esforços colaborativos que saciem necessidades urgentes da nossa existência, se propondo a alavancar ainda mais a experiência humana real.


Durante os dias de SxSW o que se viu foram dezenas de salas e auditórios lotados, promovendo a exposição, debate e discussão de inovações em áreas médicas, produção de alimentos, transporte, educação, economia, comunicação, jornalismo, linguagem, cultura, design, sociedade, ética e política. Todas abordagens de alguma maneira focadas em criar um bem estar ainda maior para um grande número de pessoas, focadas em impulsionar positivamente as relações humanas no futuro, aqui e até em outros planetas.


No SxSW ficou muito claro que o futuro é uma realidade ainda não existente, mas desde que imaginada, possível. Essa realidade é gerada unicamente por nossas mentes criativas, trabalhando de forma coletiva e colaborativa, no hoje.


E para que esse futuro seja singular, justo e igualitário, é indispensável que a diversidade humana esteja presente e representada nessa grande sala de discussão, onde todos sejam capazes de contribuir com seus diferentes pontos de vistas na solução de problemas sociais complexos, afim de gerar um futuro melhor sob diferentes perspectivas.


A compreensão trazida por um proeminente professor de que, quando distribuído, o poder gera poder, e que não há ganho maior para nós enquanto sociedade do que empoderar pessoas, especialmente as mais carentes, (ou pelo menos mostrar que elas são capazes) só gera benefícios em escala para todos nós.


Nesse futuro tentador, hiperconectado e autônomo que começa a ser prototipado e testado, ambientes segregatórios e exclusivos não fazem mais sentido, tanto quanto crachás e hierarquias rígidas em corporações vão perdendo seu sentido.


E é aí que o South by South West nos ensina outra coisa muito importante, não apenas nos auditórios e salas de palestra, mas muito mais nos bares e casas de show da 6th street no downtown de Austin: que as interações humanas positivas são grandiosas, indispensáveis e extremamente necessárias para a nossa existência!


Quem foi viu!

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